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JOSÉ RUI SILVA

José Rui Silva, Engenheiro de Micro e Nanotecnologias, atualmente a viver nos Países Baixos onde desenvolveu parte da tese de investigação do doutoramento em colaboração com a SRON.

Sonhador, social por natureza e viciado em alta tecnologia (nanotecnologia, espaço, etc) até Blockchain a ilusionismo e gosto por partilhar ideias. Vejam ainda a TEDTalk "Magia, uma soft skill?"

Especialista de Blockchain na Art2act, cujo objetivo é criar um ecossistema descentralizado que oferece soluções financeiras para o setor artístico, e especialmente para artistas. 

Já desde pequeno tinhas interesse pelo sector de espaço?  

O espaço foi um tópico que sempre me fascinou. Lembro-me de passar horas em frente da televisão a ver os documentários que passavam na RTP2 e ficar de boca aberta quando se falava da corrida ao espaço, a ida do homem à lua, ou de telescópios espaciais. Isto levou a que eu acabaria por moldar um bocado o meu percurso na direção das ciências. 

Como surgiu a oportunidade do SRON na Holanda?  

Eu estudei Eng. De Micro e Nanotecnologias e sempre fomos muito incentivados a expandir os nossos horizontes. Uma das coisas que nos sugeriam era fazer as teses de mestrado noutra instituição, talvez até no estrangeiro. E assim fiz. Sempre quis ligar o meu interesse à nanotecnologia com espaço e acabei por encontrar um laboratório que fazia exatamente isto. Utilizavam nano detectores para detectar luz vinda de radiação de estrelas. O laboratório tinha vagas para teses de mestrado e fui aceite. Foi aqui que rumei ao SRON, neste caso ao laboratório que existe em Groningen, no norte dos Países Baixos. Depois da Tese de Mestrado fui convidado a ficar,  tendo ficado mais tarde para Doutoramento. 


Qual o teu papel na missão GUSTO da NASA e quais têm sido os maiores desafios até ao momento? 

O GUSTO é um observatório de radiação de terahertz que nos permite descortinar os mistérios das zonas de criação de estrelas. Será operado a 40 km de altitude através de um balão estratosférico, tendo o lançamento planeado para o final de 2023 a partir da Antártida. Para além disso, será a missão astronômica a partir de um balão de alta altitude mais longa de sempre. Um dos grandes objetivos é demonstrar que se pode utilizar balões, tipicamente missões de poucas horas a alguns dias, para realizar missões de longa duração, vários meses. Sendo que isto abrirá uma nova era em astronomia onde se pode prototipar tecnologia antes de a lançar no espaço, a uma fracção do custo, treinando cientistas juniores, e obtendo ainda assim bom retorno científico. 


A minha contribuição para a missão foram os arrays de detectores que são o coração do telescópio. São usados para converter a luz vinda da zona da região de estrelas que queremos estudar num espetro. Estes espectros são extremamente úteis para astrônomos que através deles conseguem tirar informações como temperatura, pressão, e a dinâmica da região.  Este projeto foi o tópico do meu doutoramento, tendo sido responsável desde o design dos arrays, demonstração, montagem e caracterização. Auxiliado, obviamente por uma grande equipa desde eng. Mecanismos, elétricos etc.



O maior desafio foi sem dúvida desenvolver as câmeras com o grau de confiabilidade requerido para este tipo de projetos. Visto que isto é hardware de voo não basta fazer uma demonstração de tecnologia, é preciso passar os exigentes requisitos impostos pela NASA. 

Como surgiu a oportunidade de ir acompanhar o projeto na Antártica? 

O GUSTO teve um precursor, o STO-2, onde o meu instituto foi também parceiro. Na altura do lançamento, também na Antártida, tive dois colegas que estiveram envolvidos lá. Visto que do lado holandes nós fornecemos a tecnologia dos detectores, faz sentido que haja uma pessoa que acompanhe todo o processo de lançamento, sendo que neste caso a melhor pessoa para o fazer seria eu, o que me deixa muito orgulhoso. 

Para que zona da Antártica irás e durante quanto tempo? 

Vamos estar na Estação de McMurdo. Esta é a maior estação científica da Antarctica albergando cerca de 1000 pessoas no pico. O plano atual é chegar dia 2 de Novembro e regressar dia 8 de Janeiro, sendo que a data de regresso dependerá se de facto já tivermos lançado o telescópio ou não. 

Sentes-te ansioso e que expectativas tens sobre esta aventura pela Antártica (quer pessoais quer profissionais)?  

Esta será sem dúvida uma das maiores aventuras da minha vida, para além de envolver um elevado grau de responsabilidade até pelo alto perfil da missão. Por outro lado a equipa que está a trabalhar no telescópio tem imensa experiência e estou a contar de aprender imenso sobre todo o processo e logística que um lançamento destes envolve. Sempre com o objetivo de contribuir da melhor forma para a operação eficiente do observatório. A nível pessoal é uma experiência que mais se assemelha a ir para outro planeta (ainda que obviamente graus de magnitude mais relaxada), e penso que me fará abrir os olhos para os desafios que a humanidade enfrentará quando começarmos a explorar de facto, por exemplo, Marte. Por mim tenho ainda como objetivo tentar ir ao ponto geográfico do Polo Sul, mas aqui entramos numa parte de especulação que vai depender de muita coisa, mas que seria sem dúvida a cereja no topo do bolo.